A escolha pela área de pesquisa pode conduzir a vários destinos, mas o contexto com o qual se vai deparar no caminho será sempre imprevisível. O pesquisador Robson Augusto Souza dos Santos, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG), enfrentou o inesperado em diversos momentos de sua carreira. Do mesmo modo, Jairo José Drumnond Câmara, pesquisador e professor emérito da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), usou a criatividade para confrontar o real ao longo de sua travessia.
Os dois compartilharam um pouco de seus projetos inspiradores durante a mostra Inova Minas FAPEMIG, ação que faz parte da celebração dos 40 anos da FAPEMIG.
Da hipertensão à calvície
Robson Santos graduou-se em medicina, mas foi na bancada, como fisiologista, que viu o trabalho de sua pesquisa chegar ao mercado. Ele foi um dos responsáveis por criar um tônico capilar indicado para a calvície que pode ser comprado nas farmácias do país. Mas essa história não foi premeditada.
Robson conta que estava fazendo seu pós-doutoramento, no final dos anos 1980, em Cleveland, nos Estados Unidos, quando identificou um peptídeo, – que é um pedaço de proteína – e faz parte de um sistema muito importante do organismo, era a angiotensina II.
Esse sistema está relacionado ao controle da Pressão Arterial e, quando fica desregulado, favorece o desenvolvimento de hipertensão, cardiomiopatia, aterosclerose e doença renal. "Quando nós descobrimos esse peptídeo que antagonizava, ou seja, tinha efeitos opostos. Ao invés de contrair os vasos sanguíneos, ela relaxa e protege o coração. Depois, já no Brasil, seguimos pesquisando a angitensina 1-7, e desenvolvemos junto com o Frederic Frezard uma formulação lipossomal baseada em lipossomas e nanotecnologia. E vimos que ela de provocava a estimulação do folículo capilar para produzir crescimento de cabelo”, lembra.
Ainda hoje, a atuação do pesquisador busca soluções para a hipertensão e ele lembra como o caminho ainda é cheio de percalços para se lançar um produto no mercado e, quando esse produto é um medicamento, as dificuldades são ainda maiores.
Em relação ao tônico capilar, foram 15 anos da bancada até a liberação do produto no mercado. “Nós investimos na área cosmética, inicialmente, porque a questão regulatória é mais simples. Por isso agradeço o apoio da FAPEMIG e peço que eles sejam mantidos, sobretudo nos INCTs, que são pontos nevrálgicos para que as atividades de bancada possam chegar ao mercado”, sugeriu.
O carro mais belo que não anda
Foi com humor e boa dose de ironia que Jairo Câmara rememorou a história de um dos projetos mais premiados da Escola de Design da Uemg: o carro Sabiá. O pesquisador, que coordenou o projeto no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design e Ergonomia (CPqD) da instituição, conta que o primeiro desenho do Sabiá foi feito em 1992, e era um planador sem asas.
O objetivo era desenvolver um carro de design diferenciado para representar o Brasil na Shell Marathon, competição promovida pela multinacional para carros mais econômicos. No evento, eram avaliados a estética, mas também a aerodinâmica. “Nós recebemos o Prêmio de Honra do Design, pelo modelo Sabiá 1, mas o curioso é que nosso carro não andou. Esse reconhecimento foi importante para os alunos, pois muito foram contratados por empresas por causa do projeto, que serviu como um trampolim de empregos para eles”, lembra.
Com detalhe e irreverência, Jairo lembra de cada uma das versões dos carros que fizeram parte do projeto. Ao todo, foram seis veículos, que participaram da maratona Shell entre 1994 e 2009, sendo que a maior parte delas aconteceu na França e uma nos Estados Unidos.
Mesmo sendo os carros o produto fundamental, o pesquisador destacou o protagonismo de seus alunos, lembrando o nome e a trajetória de cada um que passou pelo projeto. “Muitos desses alunos não tinham dinheiro e viajavam de avião pela primeira vez. Alguns viviam com recursos das bolsas de iniciação científica da FAPEMIG, que foi um importante incentivo para eles. Durante as maratonas, eu fazia questão de dedicar um tempo aos passeios culturais, onde os alunos pudessem ampliar suas visões de mundo. É uma alegria ver que hoje todos eles ocupam lugares de referência no mercado”, acrescenta.